Por que Irã e Israel são inimigos? Entenda a origem do conflito

Irã e Israel se encontram em um dos momentos geopolíticos mais tensos da sua história, depois de trocarem uma nova onda de ataques.

Uma análise sobre o caminho percorrido pelos dois países nas últimas décadas permite entender como as duas nações passaram de alianças a hostilidades, e chegaram mais uma vez a uma crise. 

Israel lançou umataque sem precedentes contra o Irã na manhã desta sexta-feira (13), visando o centro do programa nuclear do país e altos líderes militares.

O Irã iniciou sua retaliação logo em seguida, aumentando novamente os temores de um conflito mais amplo no Oriente Médio, enquanto países ao redor do mundo pedem a ambos os lados que reduzam a tensão.

A região tem sido pressionada pela guerra entre Israel e o Hamas desde 7 de outubro de 2023.

No entanto, a relação Israel e Irã nem sempre foi assim. Na verdade, o que acontecia era o oposto.

Isso ao ponto do Irã já ter sido, provavelmente, um dos aliados mais “confiáveis” de Israel “até 1979”, ano da Revolução iraniana, de acordo com Abbas Milani, diretor de Estudos Iranianos Hamid e Christina Moghadam da Universidade de Stanford, na palestra “Irã e Israel: Visão estratégica e objetivos” da Universidade da Califórnia em Berkeley, realizada no último dia 18 de março.

O que aconteceu que levou a essa mudança? Aqui temos um resumo da origem das relações entre os dois países.

A origem das relações Irã-Israel: de aliados a inimigos

Os aiatolás do Irã (o aiatolá é o líder supremo do país islâmico) têm essencialmente três objetivos: expulsar os Estados Unidos do Médio Oriente, substituir Israel pela Palestina e derrubar a ordem mundial liderada pelos Estados Unidos, comentou o especialista em Irã Karim Sadjadpour no podcast “In the Room with Peter Bergen”.

A inimizade do Irã com Israel e também com os EUA atingiu o seu auge em 1979, no contexto da Revolução Iraniana, quando o Xá do Irã (o governante monárquico do país naquela época), aliado do Ocidente e de Israel, foi derrubado pelos fundamentalistas islâmicas, de acordo com Peter Bergen, analista de segurança nacional da CNN.

Nos anos seguintes, acrescenta Bergen, as diferenças ideológicas entre Israel e o regime iraniano, além dos reveses e erros políticos dos Estados Unidos, exacerbaram a inimizade entre israelenses e iranianos.

Por que antes eram aliados?

Ao contrário do que se pode pensar, há judeus que vivem no Irã há mais de 2.500 anos.

Milani comentou que “viveram ali de forma contínua e amaram o país onde viveram”, como os judeus da comunidade iraniana de Isfahan.

A relação dos iranianos com os judeus foi decisiva na primeira metade do século XX, pois o Irã foi um dos países que concordou com o plano de divisão da Palestina da Organização das Nações Unidas (ONU) que criaria dois Estados: um judeu e outro palestino.

“Mesmo antes da criação de Israel, o Irã foi um dos países que apoiou a criação do Estado de Israel na ONU. Mas também era indiscutivelmente a favor de ter um plano para os palestinos”, enfatizou Milani.

O plano de divisão final da ONU, que incluía um Estado judeu, outro árabe palestino e Jerusalém sob um regime internacional, foi aprovado em novembro de 1947 com 33 votos a favor, 13 contra e 10 abstenções.

Entre os países contra estava o Irã, que anteriormente havia recomendado “a independência da Palestina como Estado federal que compreendesse, em sua estrutura interna, um Estado árabe e um Estado judeu.

Uma das razões apresentadas foi que a federação criaria uma situação na qual árabes e judeus estariam interessados em trabalhar juntos”, segundo documentos da ONU.

Após a declaração de independência de Israel em maio de 1948, houve várias guerras (1948, 1967, 1973) entre o novo Estado judeu e países árabes vizinhos.

O plano de divisão final da ONU, que incluía um Estado judeu, outro árabe palestino e Jerusalém sob um regime internacional, foi aprovado em novembro de 1947 com 33 votos a favor, 13 contra e 10 abstenções.

Entre os países contra estava o Irã, que anteriormente havia recomendado “a independência da Palestina como Estado federal que compreendesse, em sua estrutura interna, um Estado árabe e um Estado judeu.

Uma das razões apresentadas foi que a federação criaria uma situação na qual árabes e judeus estariam interessados em trabalhar juntos”, segundo documentos da ONU.

Após a declaração de independência de Israel em maio de 1948, houve várias guerras (1948, 1967, 1973) entre o novo Estado judeu e países árabes vizinhos.

Na primeira dessas guerras, participaram o Egito, Síria, Jordânia, Iraque e Líbano, mas não o Irã; enquanto, assinala a ONU, Israel “ocupou 77% do território que tinha tido a Palestina sob o Mandato Britânico, incluindo a maior parte de Jerusalém. Mais da metade da população árabe palestina foi expulsa ou fugiu do território do novo Estado”.

Interesses econômicos e militares

Embora seja notório que existiam desacordos, o Irã se afasta do conflito com Israel. Por quê? Abbas Milani explica que, além da sua população judaica, o Irã partilhava importantes interesses econômicos com Israel, sobretudo em dos maiores motores da economia iraniana: o petróleo.

“A partir de 1955, o Irã começa a vender petróleo a Israel a preços reduzidos. Assim que alguns estados árabes do outro lado do Golfo Pérsico começaram a dizer “não podemos vender este petróleo”, o Irã disse que o venderia com desconto”, explicou o especialista da Universidade de Stanford.