O custo e a falta de vagas de hospedagem em Belém podem fazer que os países mais pobres e também mais afetados pela mudança do clima fiquem de fora da COP30, que acontece em Belém em novembro. A análise da organização e de especialistas converge: é preciso agir ainda nos 100 dias que faltam para o evento para evitar que ausência de nações ou mesmo que delegações reduzidas afetem a legitimidade do que for decidido na conferência.
“Temos que encontrar uma maneira de que eles possam estar em Belém. Com a ausência dos países pobres, ficaria uma COP sem legitimidade”, afirma André Corrêa do Lago, presidente da COP30.
Os países sob risco de não participar têm um orçamento limitado de US$ 143 por dia, considerando alimentação e hospedagem. Vale dizer que esse valor é padrão em todas as COPs, historicamente.
Mas a realidade em Belém é de preços “extorsivos”, como descreveu o próprio André Corrêa do Lago. Eles chegam a até dez vezes o praticado na cidade, com diárias a US$ 700. O governo do Pará, comandado por Helder Barbalho (MDB), diz que que vem adotando uma série de soluções para ampliar a oferta de hospedagem e que não pode intervir na questão dos preços (veja íntegra do posicionamento abaixo).
Faz meses o preço das hospedagens têm sido uma questão para o governo, que já buscou acordo com a rede hoteleira no estado, sem sucesso. Nesta semana, a questão se tornou oficial com o escritório climático da Organização das Nações Unidas (ONU) realizando uma reunião de emergência para debater os altos preços das acomodações.
A crise se agravou quando 25 países entregaram uma carta na qual questionam a situação. Entre os signatários está o bloco dos Países Menos Desenvolvidos (LDC, em inglês), que inclui 44 países em desenvolvimento como Tuvalu, Liberia, Angola, Gâmbia, entre outros.
Uma das questões que foram levantadas é de que países em desenvolvimento e pobres fiquem de fora das discussões, sendo eles justamente os mais afetados pela crise do clima.
Sem países, COP pode ser colocada em xeque
O presidente da COP30 admitiu que os altos preços podem inviabilizar a vinda dessas nações, mas disse que o país deve agir, sob pena de isso fira a legitimidade do evento. Isso porque a questão pode ser interpretada como uma medida que inviabilizou os países de participarem das discussões.
Uma das soluções propostas foi a oferta limitada de quartos por preço mais acessível, mas isso impediria que os grupos viessem completos, com todos os negociadores. Mas isso também é um risco.
Márcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, resume a preocupação de ambientalistas e observadores que acompanham as últimas COPs. Ele explica que isso poderia colocar em xeque os acordos feitos na COP.
“No caso de países que tiverem a delegação diminuída e por isso não puderem participar dos debates, eles podem questionar as resoluções que eles gostariam e não puderam debater. Esse é o ponto mais grave, porque você pode colocar sob questionamento as resoluções de toda a conferência. Eles podem alegar que o país inviabilizou a participação deles”, avalia Astrini.
Plataforma e soluções
O governo havia prometido como resposta uma plataforma com hospedagens até US$220 por diária, que teria esse grupo como prioritário — apesar do valor estar acima das diárias que os grupos têm.
Segundo Lago, os quartos disponíveis foram os de menor valor encontrado. No entanto, na reunião, os países trouxeram demandas que pedem estadias que se limitem a US$ 70 a diária, porque ainda teriam que arcar com os custos de transporte e alimentação com o valor de US$ 143.
A outra solução que havia sido prometida era a disponibilização de navios. Mas ela também saiu mais cara do que o esperado por quem aguardava a medida como resposta, com cabines a US$600.
Lago disse que o governo segue no diálogo para tentar viabilizar a vindo dos países mais pobres, por meio da Casa Civil.